Desporto e Claques (e os demais)

A raiva e as frustrações que a vida proporciona são libertadas por/de várias maneiras:
Há quem parta loiça; há quem ande à cacetada com o primeiro que lhe aparece à frente; uns escrevem no blog/diário; outros preferem drogar-se; outros que, por mais estranho que pareça, praticam desporto. E há, ainda, os que se dedicam a claques organizadas ou os que, simplesmente, vão ver jogos de futebol. Há de tudo.

Pessoalmente, consigo compreender - remotamente - as escolhas aqui referidas e as outras tantas. Não selecciono a maioria, mas as opções estão sempre em aberto. As duas últimas atraem-me especialmente.Duas razões:
1- Gosto de claques, do apoio que dão e da euforia e garra que apresentam para com o seu clube.
2- A necessidade, incompreendida, que têm de se insultarem umas às outras.

Perdão, incompreendida não. Aliás a resposta ao segundo ponto está na introdução deste texto: a raiva e as frustrações.
O pessoal chega do trabalho, da escola, ou do descanso o dia inteiro, irritado, frustrado, cansado ou com necessidade de se cansar, e pensa:
"Vou mas é ver um joguito que isto passa!"- E lá vai o pessoal.
Chegado ao local de distracção temporária, o pessoal senta-se a prepara a voz - como quem se prepara para cantar - e começa. Começa o jogo e os insultos. E não me venham dizer que não há Liberdade de Expressão neste país! Poderiam era renovar o reportório de palavrões que aquilo já deu o que tinha a dar. Ou não. Adiante. Para haver coerência entre o que dizem e o que fazem o dito pessoal mostra constantemente o dedo tão conhecido por todos nós e assobia aos seus adversários de claque. Já sem voz, depois de tanta actividade verbal, o pessoal levanta-se, não sem antes mostrar, mais uma vez, o quanto lhe agrada a outra claque, e vai-se embora. Libertos emocional e psicologicamente dos seus problemas encaminham-se para as suas casas, perto ou longe ainda dá para uns quantos pontapés aos pneus dos carros e insultos e canções pela rua fora. E até para a semana.


Estive a estudar minuciosamente as opções e cheguei à difícil conclusão que o Desporto é preferível:
1-Liberta-se das decepções de forma não-brutal;
2-É saudável;
3- Fica-se em forma - os bem "torneados".
Acreditem. Afinal, se os participantes das claques - e os que "só" vão ver os jogos- praticassem desporto não se verificaria tanta exaltação ao mínimo respirar da claque contrária.
Dedicar-se-iam, somente, a torcer pela sua equipa - que pelo que se consta é mesmo para isso que se formam as claques - incentivando a moral quer dos jogadores quer dos adeptos. E andavam em forma!

Esqueci-me de enunciar mais um aspecto que me deixa curiosa quanto às claques.
A dificuldade que apresentam em relação ao alfabeto. Isso mesmo, alfabeto, letras.
C.F.B. não é considerado o mesmo que S. L. B. . Português. Digam comigo e "encontrem as diferenças":
(Aqui vai uma ajuda.) cê, éfe, bê. ésse, éle, bê.
Difícil? A não ser que não saibam ler... bem, isso é outra história. (Portanto, se estão a jogar contra um C.F.B. não vão estar a insultar um S.L.B. que não se encontra em campo.)
Esta dificuldade, creio eu, é facilmente explicada. Voltemos uns bons anos atrás:
O puto chega a casa todo partido e os pais ferrenhos dum clube qualquer comentam:
"Com que então andaste na brincadeira... E já fizeste os trabalhos de casa?!"
"Já! Dei uma sova ao #%£!&?"! dum ... (entenda-se um fã dum clube diferente), ficou estendido à porta de casa."
"Fizeste bem! Nunca te esqueças que os T.P.C são muito importantes. Far-te-ão num homem! Agora, vai-te mas é lavar."
E lá vai o alfabeto para o caneco.

90 min (mais intervalo e descontos) confirmam tudo.
E, mais uma vez, peço desculpa aos mais sensíveis e às excepções. Não levem a peito. Considerem uma tentativa frustrada de críticas irónicas a uma grande "instituição". Escuso de referir.

Não foi uma volta ao blog, só um desabafo.